Quanto mais entendemos a história natural e como surge uma determinada doença, mais fácil obter o diagnóstico correto e propor o tratamento adequado. Com a endometriose não é diferente.

A endometriose é uma doença caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero. O endométrio é a camada que reveste internamente a cavidade uterina e é renovado mensalmente por meio da descamação durante o fluxo menstrual.
Ainda não há uma compreensão completa sobre a origem da endometriose. Sabemos que existem uma série de fatores imunológicos, genéticos, fatores de crescimento e alterações enzimáticas envolvidas que tornam o endométrio de pacientes portadoras mais suscetível ao desenvolvimento da doença.
A teoria da menstruação retrógrada proposta por John Sampson em 1927 é a mais aceita entre os profissionais que diagnosticam e tratam mulheres portadoras de endometriose. No entanto, não há estudo que demonstre claramente que células do tecido da endometriose sejam implantes (autotransplante) do refluxo menstrual pelas tubas uterinas.
Muitas evidências demonstram falhas nessa teoria, como foi sugerido por David Redwine em seu artigo publicado em 2002 na revista Fertility and Sterility, “Was Sampson wrong?” (Sampson estava errado?) questionando a teoria da menstruação retrógrada e defendendo que o endométrio da paciente portadora de endometriose seja diferente do tecido normal do útero.
Outra constatação é que a maioria das mulheres possuem esse refluxo mas não possuem endometriose. Estudos recentes, apoiados por exames de ressonância magnética, revelam que a endometriose está presente desde o nascimento, crescendo ao longo da vida da mulher.
O que temos visto na prática clínica é que quando realizamos a excisão total das lesões de endometriose no peritônio, mesmo a mulher permanecendo com o útero, a doença, em sua grande maioria, não tem retorno. Hoje sabemos que muitos casos que eram diagnosticados como retorno da doença após cirurgia tratam-se de lesões de endometriose que não foram removidas.
A causa da endometriose mais plausível é considerada como um defeito dos ductos de Müller, ocorrendo durante o desenvolvimento embrionário. Células embrionárias que não migram adequadamente para o interior do útero. Isso explica sua distribuição atípica característica e a sua presença em fetos femininos.
Ainda não há estudos que mostrem com clareza a etiologia da endometriose, mas a teoria embrionária/Mülleriana tem se revelado, ao nosso ver, mais plausível.
A endometriose, portanto, é uma condição patológica, de provável origem embrionária (fora do útero) e cujas células (fora da cavidade) sangram espontaneamente durante o ciclo menstrual, afetando diretamente os órgãos da pelve feminina. Isso resulta em inflamação, aderências, dor pélvica, infertilidade, sangramento e impacto direto na qualidade de vida das pacientes.
Dentre os métodos conservadores, o tratamento clínico (com anticoncepcionais, DIU, analgésicos e ação hormonal como anti-inflamatória e atividade física) apesar de melhorar os sintomas, não são capazes de eliminar a endometriose.
Tratamentos hormonais podem estabilizar as lesões de endométrio ectópico, tratando os sintomas, mas não a doença em si. O tratamento cirúrgico de excisão em bloco é capaz de remover efetivamente essas lesões com segurança.
Mesmo nos casos onde foram as lesões de endometriose removidas, maior será o benefício da cirurgia de excisão. Entretanto, essa cirurgia requer uma longa curva de aprendizado, conhecimento profundo da anatomia pélvica e equipe multiprofissional com treinamento avançado em cirurgia minimamente invasiva.
Autores:

DR. LEANDRO MROZINSKI
CRM/MT 4751 – RQE 2057
Cirurgia Videolaparoscópica – RQE 6321
- Membro da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE)

DR. LEANDRO DUTRA PERES
CRM/MT 9035
Cirurgião do Aparelho Digestivo – RQE 4283
Cirurgia Geral – RQE 4338
Cirurgia Videolaparoscópica – RQE 4339
- Membro da Associação Internacional de Cirurgia Hepatobiliopancreática (IHPBA)
- Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (SOBRACIL)
- Membro da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE)